2 de março de 2011

Maré Alta 02/03/2011

As gravatas não decidem

Conversava há alguns dias atrás com alguns amigos sobre a moção de censura que o Bloco de Esquerda vai apresentar e diziam-me que o BE não tem condições de vir a ser Governo em Portugal. Perguntei porquê, mas nenhuma razão plausível me foi apresentada que pudesse sustentar essa ideia.

Na falta de argumentos válidos, alguém disse que no Bloco não é hábito usar-se gravata. Mas será esse o factor mais importante para o exercício de funções governativas? Não me parece. 

Uma gravata poderá apenas proporcionar um ambiente mais formal e, eventualmente, dar maior confiança a quem a usa. No entanto, as gravatas não decidem, não fazem com que os seus portadores sejam mais ou menos competentes, tenham esta ou aquela visão sobre os destinos de um país ou de um município. No mundo dos negócios, como na política há muitos exemplos de que uma forma mais informal de vestir não é impedimento para um bom e efectivo desempenho de organizações e pessoas, muito pelo contrário.

O Bloco de Esquerda é formado por um amplo leque de pessoas das mais variadas origens académicas, profissionais e sociais. Há no Bloco, homens e mulheres, jovens e mais velhos, por todo o país, com formação superior, doutoramentos e mestrados, nas mais variadas áreas de conhecimento e dispostos a dar o seu melhor para construir um país melhor para todos. Mas no Bloco também há homens e mulheres com outros diferentes graus de formação, mas com uma experiencia profissional e de vida capazes de trazer às decisões políticas uma proximidade muito maior da realidade da vida da grande maioria dos portugueses.

Um município ou o país não tem forçosamente que ser governado por uns fulanos muito bem vestidos e que se perfilam politicamente em função de interesses muitas vezes criticáveis, mas cujo desempenho tem levado ao ponto a que agora chegamos. 

É urgente deixar de lado determinados preconceitos sem sentido e pensar que a responsabilidade do nosso destino colectivo também é nossa e que as nossas decisões também são importantes. Não basta dizer mal dos políticos em geral e continuar a considerar apenas velhos padrões cujos resultados todos conhecemos.
Esta é a hora de mudar de mentalidade e ser mais exigente com quem tem a incumbência de governar, mas é também tempo de pensarmos que podemos, nós próprios, colocar os nossos conhecimentos e a nossa disponibilidade ao serviço de todos. Se tantos de nós o fazemos no associativismo, na solidariedade, na religião, na arte e em tantas outras actividades, façamo-lo também na política, de uma forma autêntica e sobrepondo elevando sempre os interesses colectivos a quaisquer outros. Aí, certamente, teremos uma sociedade muito melhor, quando o valor das propostas e das ideias for mais importante que a aparência.

Nestes tempos de maiores dificuldades, deixemos de lado preconceitos e estereótipos retrógrados e tomemos os nossos destinos nas próprias mãos, sem medos e com toda a responsabilidade.

Crónica publicada no jornal Opinião Pública de 02/03/2011

1 comentário:

Noone disse...

Leia http://saibacomofuncionafamalicao.blogspot.com/ e divirta-se muito!

"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."