1 de outubro de 2008

Maré Alta de 01/10/2008

A crise que todos pagamos.

A crise financeira que começou nos Estados Unidos e que já se estendeu um pouco a todos os cantos do mundo veio mostrar que o sistema que tem vigorado nos últimos tempos está completamente errado e tem como principal consequência uma profunda instabilidade em toda a economia mundial.
Esta crise não foi originada por acção dos cidadãos norte americanos, mas sim num grupo restrito de especuladores e administradores que manifestamente foram incompetentes, apesar de ganharem altíssimos ordenados e de terem recebido escandalosos bónus. O resultado destas más práticas e de um sistema em que a ganância reina é o eminente colapso da economia mundial e necessidade imperiosa de uma intervenção dos governos dos principais países, injectando dinheiro no sistema financeiro para tentar impedir falências em massa e o consequente colapso económico e social. Na prática, todos acabaremos por pagar a factura da incompetência e da ganância de um capitalismo selvagem a quem os governantes foram sendo submissos ao longo das últimas décadas.
Enquanto escrevo este texto, o mundo está suspenso perante o chumbo da Câmara dos Representantes norte-americana ao apoio da Administração Bush aos bancos, mas não tenho dúvidas de que esse apoio acabará por se realizar, dadas as terríveis consequências se não acontecer.
Durante muitos anos, os governos deixaram que as chamadas leis do mercado (lei da selva) imperasse em tudo quanto existe, agora, perante o caos, terão que ser os governos a salvar a situação com recursos financeiros tão necessários às populações. Está na hora de repensar todo o modelo económico e social e impedir que a vida de tantos milhões de pessoas fique assim tão fragilmente dependente da ganância de meia dúzia de especuladores para quem apenas importa o lucro, quer seja por meio do trabalho quase escravo de trabalhadores indefesos, da especulação permitida pelo monopólio de importantes sectores do mercado ou mesmo de falências fraudulentas que atiram para o desemprego e miséria quantos trabalhadores for necessário, como se tratasse de algo facilmente descartável.
No concelho de Vila Nova de Famalicão há uma situação parecida, em Fevereiro de 2007, a Câmara Municipal resolveu atribuir subsídios a três juntas de freguesia para que pudessem equilibrar as suas contas, em virtude de terem excedido as suas capacidades financeiras. Uma dessas juntas de freguesia foi Oliveira Santa Maria, que agora continua com dívidas muito preocupantes, manifestando a incapacidade dos responsáveis. De nada valeu o subsídio da Câmara Municipal a esta freguesia, beneficiando-a em relação às outras 46 que não tiveram apoios semelhantes.
Tal como nos grandes meios financeiros, também ao nível local encontramos muitas situações em que a má gestão, incompetência e mesmo práticas mais graves acabam por ser pagas por todos os contribuintes através de apoios extra, com verbas que poderiam ser aplicadas e benefício de todos.


Crónica publicada no Jornal Opinião Pública em 01/10/2008

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"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."