As pessoas e os números.
Foi anunciando recentemente com grande fanfarra os números oficiais do défice para 2006, fixados em 3,9%, este governo aproveitou para clamar vitória das suas políticas.
Não devemos esquecer que em 2005, José Sócrates prometeu três grandes medidas para Portugal: criação de emprego, dinamização da economia e a controlo das contas do Estado.
Chagamos já a meio do mandato e dessas promessas, apenas uma delas foi parcialmente conseguida. Temos actualmente o desemprego mais alto de sempre no nosso país, com situações sociais e familiares dramáticas por todo o país; a economia continua estagnada, amordaçada num ciclo vicioso que apenas beneficia os grandes interesses financeiros; finalmente, a tão apregoada redução do défice orçamental não passa de um engano. Ao contrário daquilo que seria de esperar, esta redução do défice não se deve a uma eficiente gestão das contas públicas, mas sim a um agravamento significativo no nível de vida dos portugueses.
Na prática o governo de José Sócrates fez aquilo que é mais fácil de fazer, aumentou os impostos, diminuiu os serviços prestados pelo Estado aos cidadãos, fechando escolas, maternidades, urgências, tribunais, etc. A única acção realmente benéfica que contribuiu para a diminuição do défice tem sido o combate à evasão fiscal, neste caso (e apenas neste) temos que reconhecer o mérito deste governo, apesar de haver ainda muito para fazer, nomeadamente dotar os tribunais ficais dos meios humanos e materiais necessários. Em todas as outras medidas, o sacrifício das opções tomadas é sempre da maioria dos portugueses que se defrontam com o fantasma do desemprego, com os serviços do Estado cada vez mais caros e distantes, com o aumento dos impostos directos e indirectos.
Começa a ser tempo de nos questionarmos se este é o caminho correcto a seguir. Onde é que estas opções politicas nos vão levar? Que consequências sociais é que esta obsessão pelos números (nomeadamente do défice) estão a ter no pais real? Não é difícil de ver que as zonas do interior do pais estão a sofrer um processo acelerado desertificação, que esta crise leva à pobreza extrema e daí à exclusão social, à marginalidade, à insegurança e à criminalidade. São estes os principais efeitos colaterais das politicas que dão mais prioridade aos números que às pessoas.
As pessoas são sempre mais importantes que os números.
Se a dureza dos números acaba por ter graves consequências sociais, se o Pacto de Estabilidade e Crescimento acaba por originar cada vez maiores desequilíbrios e desigualdades entre os mais ricos e os mais pobres, é altura de repensar todo o modelo de desenvolvimento do país e da Europa.
Nos 50 anos do tratado de Roma, é cada vez mais premente que a União Europeia caminhe rapidamente para uma verdadeira união política e social e deixe de vez de ser uma especulativa comunidade de interesses económicos e financeiros.
Crónica publicada no Jornal Opinião Pública de 28/03/2007
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