1 de julho de 2009

Maré Alta de 01/07/2009

Do adro ao altar.

Desde sempre que a Igreja e a política estiveram muito relacionadas, tendo havido tempos em que as duas se confundiam. Nos países ocidentais, a laicidade do Estado tem conseguido separar as duas actividades, mantendo sempre alguma ligação e alguma influência, nomeadamente da Igreja Católica como uma instituição com alguma influência a nível político.
Neste ano de eleições autárquicas, em que há uma maior aproximação dos políticos aos cidadãos eleitores, aumentam os sinais dessa cumplicidade entre o poder e os interesses de partidos políticos e a Igreja Católica, como religião dominante na nossa região. Não foi por medo acaso que a Câmara Municipal decidiu este ano procedeu ao arranjo de uma série de adros de igrejas em várias freguesias do nosso concelho. Mesmo não sendo responsabilidade directa da Câmara Municipal, Armindo Costa aproveita estas ocasiões para fazer propaganda à nossa custa, mesmo antes de se apresentar novamente como candidato. Esta tentativa de captar votos sob influência da religião, já vem de traz com os célebres passeios a Fátima pagos com verbas públicas mas que certamente rendem mais alguns votos a quem está no poder.
Mas não é só quem está no poder que se serve da influência da religiosa para atingir fins políticos. Recentemente o Partido Socialista apresentou como candidato à Assembleia Municipal de V. N. de Famalicão o padre Salvador Cabral. Naturalmente que enquanto cidadão, Salvador Cabral tem todo o direito de ser candidato àquilo que entender ou que o convidarem. Já como sacerdote de duas freguesias do concelho onde se candidata já levanta muitas dúvidas, principalmente em termos religiosos. Não foi por acaso que o Arcebispo de Braga se manifestou a propósito.
Mesmo salvaguardando o perfil e as eventuais capacidades e características de Salvador Cabral, esta escolha do PS famalicense revela o mesmo interesse eleitoralista numa tentativa de captar votos pela acção populista e como pároco. Neste aspecto, a coligação PSD/PP pela acção da Câmara Municipal e o PS usam os mesmos expedientes, num claro aproveitamento da fé das pessoas, principalmente das mais vulneráveis, para conseguir os seus intentos políticos.
Acredito e espero que Salvador Cabral possa trazer ao debate político que se aproxima uma contribuição efectiva de forma a enriquecer o esclarecimento das populações daquilo que ele e o partido que representa pretendem para o próximo mandato. Espero o mesmo dos restantes candidatos, naturalmente.
Felizmente, a grande maioria das pessoas já não se deixa influenciar dessa forma e conseguem facilmente distinguir aquilo que é política genuína e apoiada em projectos e pessoas vocacionados para resolver os problemas das populações e para o desenvolvimento e aquilo que é populismo e demagogia à custa da fé das populações.

Crónica publicada no Jornal Opinião Pública em 01/07/2009

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"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."