10 de dezembro de 2008

Maré Alta de 10/12/2008

Professores doutores

Durante as últimas semanas, foi evidente a preocupação dos cronistas socialistas na imprensa local em destacarem o facto do candidato do seu partido à Câmara Municipal de V. N. de Famalicão ser professor doutor.
É importante para a democracia que pessoas com formação superior estejam dispostas a contribuir para o desenvolvimento da sociedade. No entanto, o facto de alguém possuir um qualquer título de Mestre, Doutor, Engenheiro, Professor, Arquitecto ou Bacharel não faz, por si só, com que essa pessoa seja melhor ou superior às demais. Significará apenas que essa pessoa possui algum tipo de especialização numa ou mais áreas de conhecimento.
O carácter, a visão, a honestidade, a vontade e a determinação não se adquirem nem se medem apenas pela ostentação de um qualquer título académico, independentemente da forma como foi conseguido.
Entendo que no interior dos partidos não deverá haver uma predisposição para dar ênfase a determinadas pessoas pelo simples facto de terem um curso superior. As escolhas e opções devem ser feitas em função daquilo que efectivamente demonstram ser capazes todas as pessoas, de forma a todos se empenharem ao máximo na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.

- O estado da Educação em Portugal é sem dúvida um tema incontornável nos últimos tempos, principalmente a luta dos professores contra o sistema de avaliação que o Ministério lhes impõe. Este braço-de-ferro sem fim à vista está a tornar-se numa situação particularmente grave pelas consequências que pode originar.
Se nos recordarmos, em Agosto passado o Presidente da Republica interrompeu as suas férias para deixar o país em suspenso com uma declaração a propósito do Estatuto Político-Administrativo dos Açores. Sem querer retirar importância a esse assunto, seria de esperar que com a situação grave que se passa actualmente na Educação, Cavaco Silva tivesse idêntica atitude ou, no mínimo, que chamasse o Governo e os Professores e promovesse um entendimento efectivo. Pelo contrário, apenas lhe ouvimos que confia no diálogo, quando já todo o país percebeu que isso não tem perspectivas de acontecer.
O Presidente da República, como responsável máximo da nação, deveria ter a iniciativa de actuar antes que as consequências sejam mais graves, não pode apenas percorrer o país a fazer inaugurações e em ocasiões festivas.
É urgente que a figura mais alta do Estado cumpra o seu dever de garantir o normal funcionamento das instituições democráticas, quando manifestamente isso não está a acontecer. Juntando a isso o triste episódio aquando da sua visita à Madeira em que se deixou submeter à vontade de Alberto João Jardim e ao manter como Conselheiro de Estado alguém sobre quem recaem muitas suspeitas (no mínimo) de irregularidades no sistema financeiro, facilmente concluímos que Cavado Silva deixa muito a desejar em relação a todas as expectativas que muitos portugueses lhe depositaram quando o elegeram.

Crónica publicada no Jornal Opinião Pública em 10/12/2008

Sem comentários:

"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."