6 de fevereiro de 2008

Maré Alta de 06/02/2008

O Marketing político.


A adaptação do conceito de marketing comercial à actividade política remonta aos anos 80 em que o cavaquismo se começou a preocupar na forma e nos modos com que a sua imagem era entendida pela opinião pública.

Basicamente, tal como nos (outros) negócios, o marketing político tem como principal objectivo moldar a opinião das pessoas de forma a tenham as acções que mais interessam em determinado momento. Dar ênfase às coisas positivas, por vezes de forma descarada, e fazer com que as coisas negativas ou menos boas passem despercebidas da maioria das pessoas é um dos aspectos mais importantes desta actividade.

Este conceito básico é sistematicamente usado quer a um nível mais baixo, quer nas mais altas instâncias do poder. Quem é que nunca viu um presidente de junta ou candidato a pagar uma ou duas rodadas no café lá da terra? Ou então a entregar uns cabazes de Natal pelos coitadinhos que o sistema cria cada vez mais. Também se sabe que grande parte das despesas com esse marketing sai do erário público.

A um nível mais acima, é norma uns quantos assessores principescamente pagos se encarregam de tarefas mais complexas como aconselhar as cores das gravatas e dos fatos do presidente de câmara, enviarem várias vezes a mesma notícia para os jornais de referência com algum tempo de intervalo, reclamarem quando a informação não sai como se pretendia, fazerem reverter como suas, obras ou actividades de privados e até tirarem apontamentos nas assembleias municipais, sentados lá no fundo da sala.

Transportado para um âmbito nacional, o marketing político assume contornos bem mais complexos. Nestes casos, alem dos normais assessores, são contratados especialistas cuja influência se estende como um polvo nos mais variados domínios. Falando dessa influência nas televisões, é fácil notar a forma como os diferentes canais apresentam uma mesma notícia, uns mostram um copo meio-cheio enquanto outros o mostram meio-vazio. Isto já para não falar quando as televisões estão presentes em actividades de partidos ou de movimentos da oposição e depois simplesmente nada apresentarem na sua emissão. A subtileza com que isto acontece é resultado de um eficiente marketing político.

Mas o expoente máximo desta atractiva actividade foi a recente substituição dos ministros da Saúde e da Cultura. Aparentemente, José Sócrates terá percebido o descontentamento do povo. Se assim foi, andou muito tempo completamente desligado da realidade do país. Efectivamente, a principal razão da substituição ministerial ficou a dever-se às declarações de Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados acerca da corrupção nas altas esferas do Estado. A necessidade de desviar a atenção dos portugueses de um dos principais problemas que destroem o normal funcionamento das instituições obrigou a mudar de ministros e assim se desviou a maioria das atenções do maior cancro do Estado, a corrupção

É o marketing político a funcionar, infelizmente.

Crónica publicada no Jornal Opinão Pública em 06/02/2008

Sem comentários:

"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."