Novo ano, maiores dificuldades
Encontrei muito recentemente um amigo de adolescência entretanto radicado na Suíça e que há alguns anos não vinha a Portugal. Manifestou-me uma enorme tristeza pela situação em que encontrou o país, nomeadamente a profunda discrepância entre aquilo que a generalidade das pessoas ganha e o custo de vida. “ Não consigo perceber como é que tanta gente que ganha 500 ou 600 euros e tem que pagar a saúde, a justiça, a educação, casa, carro, pagar Iva a 21%, etc. Os portugueses são escravos do Estado.” disse-me ele.
Sou forçado a concordar que somos, de facto, escravos de um Estado e de um sistema em que os interesses económicos ditam as leis e as decisões de um governo que não olha a meios para atingir os objectivos económicos, mesmo que para isso tenha que nos sacrificar até ao limite. Factos como a existência de mais de 2 milhões de pobres, a elevadíssima taxa de desemprego, os aumentos dos bens essenciais muito acima dos aumentos dos ordenados, o facto de termos dos piores indicadores de qualidade de vida da União Europeia, parecem não ser capazes de demover os governantes de continuarem por este caminho de austeridade.
Mesmo a nível local o cenário não é melhor, aumentos nas principais taxas municipais muito acima dos aumentos salariais somam-se ao aperto de cinto a que todos (ou quase todos) estamos obrigados. Resta-nos esperar que em 2009 - ano de eleições - o panorama possa melhorar ligeiramente.
O optimismo de José Sócrates e de alguns dos seus ministros já não engana ninguém. Já todos estamos habituados a não acreditar naquilo que eles nos dizem. Acredito que quando vem dizer que tem indicadores que 2008 será melhor que 2007, nem ele mesmo acredite nisso, apesar de não ser difícil ser melhor que 2007, de tão mau que foi.
Prometeram 150 mil novos empregos e o desemprego está quase no dobro de 2004, prometeram melhor sistema de saúde e morrem pessoas em urgências sem serem atendidas e a nascem cada vez mais bebés em ambulâncias, para não falar nos elevados prejuízos dos hospitais EPE.
São apenas alguns exemplos para que aqueles que deram a maioria absoluta ao PS em 2005 possam reflectir e possam repensar as suas escolhas no futuro. O mesmo se poderá dizer em relação ao Executivo de V. N. de Famalicão, prometeram um grande projecto para Famalicão, mas apenas podemos ver o aumento da especulação imobiliária, estimulada por obras que o concelho não precisa, enquanto continuamos a ter milhares de famalicenses sem abastecimento de água nem saneamento básico, por exemplo.
É urgente que os portugueses e em especial os famalicenses não se alheiem dos assuntos que afectam e influenciam a vida de todos nós. Afastarem-se dos temas políticos e decidirem o em eleições apenas em função do populismo das campanhas eleitorais é hipotecar um futuro mais equilibrado assente numa democracia participativa em que todos os cidadãos se sintam responsáveis pelas opções do futuro. De outra forma, continuaremos a viver dominados por “ditaduras” camufladas de maiorias absolutas.
Crónica publicada no Jornal Opinião Pública em 09/01/2008
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