2 de janeiro de 2007

"o idiota que fica"

"Saddam Hussein foi julgado (?) e enforcado pelos fantoches de Bush no governo iraquiano e Bush congratulou-se com isso e festejou efusivamente a proeza. Se tivessem sido fantoches de Saddam a julgar Bush, decerto Saddam teria igualmente festejado, e com idênticas "boas razões". Porque também Saddam poderia ter acusado Bush (e os seus cúmplices da Cimeira das Lajes, incluindo o actual presidente da Comissão Europeia, que agora condena hipocritamente a execução) de crimes contra a humanidade, de bombardeamentos indiscriminados de civis e da morte cruel de homens, mulheres e crianças inocentes, numa guerra desencadeada a pretexto de gigantescas mentiras como a das armas de destruição maciça ou a do envolvimento de Saddam com a al-Qaeda. Assim se faz a História. Se a História tem um sentido (e Schopenhauer diz que vemos sentido na História como vemos leões nas nuvens, apenas porque os procuramos) é esse, absurdo, que Shakespeare em "Macbeth" atribui à vida toda "a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing" ("um conto contado por um idiota, cheio de som e de fúria, sem sentido nenhum"). É sempre o idiota que fica que conta a História. E, como em "M", de Fritz Lang, são sempre criminosos que julgam outros criminosos."

in Jornal de Notícias de hoje

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"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."