8 de dezembro de 2006

Maré Alta de 08/12/2006

Longe do rescaldo

Agora que o vendaval - quase intempérie - que se abateu sobre a política famalicense se está a acalmar, é altura de se tirarem algumas conclusões.

Não é normal que o presidente da junta da freguesia mais beneficiada pela Câmara Municipal (publicamente declarado) venha acusar um vereador de mentiroso, mau gestor, incompetente e de ter prejudicado a Câmara e a Junta de Ribeirão. Não é normal que o Presidente da Câmara esteja solidário com as duas partes e depois tenha retirado os pelouros a Jorge Carvalho.

Os famalicenses têm o direito de saber quais as verdadeiras razões da retirada dos pelouros, assim como todos temos o direito de saber se efectivamente as acusações feitas ao Vereador são verdadeiras ou não. Se são, temos o direito de saber exactamente em que termos é que o erário público foi lesado e que sejam assumidas as responsabilidades disso. Se as acusações não são verdadeiras, o dever do presidente da Câmara seria desmentir publicamente o presidente da Junta de Ribeirão, para que os cidadãos não tenham dúvidas das reais intenções das pessoas em causa.

Se Armindo Costa retirou os pelouros a Jorge Carvalho com base no argumento do “profundo mal-estar” com os presidentes da junta, como é que se explica o apoio de uma grande parte deles ao vereador?

De uma coisa ninguém terá dúvidas, nada continuará como antes. Existem agora mais dúvidas, mais desconfianças, mais ressentimentos que antes. Como fica agora a posição dos presidentes de junta que publicamente apoiaram Jorge Carvalho? Como se sentirão todos os famalicenses das 48 freguesias prejudicadas para que Ribeirão fosse beneficiado?

Mais grave que tudo isso é ainda o facto do executivo ter ficado dividido entre os apoiantes de Jorge Carvalho e os restantes, e passarem a haver vereadores com pelouros em acumulação, com as consequências que isso implica.

Todos estes factos vieram demonstrar que os famalicenses foram grosseiramente enganados nas últimas eleições autárquicas. Foi-lhes mostrada uma coligação coesa, empenhada, com “um grande projecto para Famalicão”, distribuindo promessas por todas as freguesias. Agora todos podem ver o quanto isso era falacioso e revelam-se com clareza as verdadeiras intenções dos candidatos da coligação: o poder a qualquer custo. Só isso pode explicar tudo o que tem acontecido neste episódio. Só isso pode explicar o que aconteceu a Edna Cardoso no mandato anterior. Não me surpreende que até ao fim deste mandato ainda nos voltemos a deparar com idênticos episódios.

As freguesias manifestam cada vez mais as assimetrias causadas pelas opções deste Executivo, as grandes obras com que a coligação fez propaganda e que lhe valeu a segunda maioria não foram da sua autoria, aquelas que se podem dizer como suas acabam por demonstrar a sua incapacidade, como por exemplo o Posto de Turismo inaugurado e a funcionar com as obras vergonhosamente por acabar.

Não tenhamos dúvidas que este é o princípio do fim deste embuste que foi esta coligação. Os famalicenses saberão reflectir e não se deixarão enganar de novo. As maiorias absolutas já prejudicaram demasiado o nosso concelho.


Publicada no jornal Opinião Pública

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