30 de julho de 2008

Maré Alta de 30/07/2008

As profissões dos políticos

O Jornal de Notícias apresentou, na semana passada, uma análise às profissões dos deputados e deputadas da Assembleia da República e constatamos que mais de metade são advogados(as) e professores(as). Várias poderão ser as razões que originam esta distância para as restantes profissões, mas considero que duas são as mais acentuam estes números: por um lado, estas duas profissões são as que mais têm a ganhar e menos a perder com o exercício de cargos públicos; por outro lado, os próprios partidos políticos dão-lhes preferência porque, por norma, contactam directamente com mas pessoas e por terem uma maior capacidade de expressão e de argumentação.

Deixo claro que nada tenho contra os professores(as) nem contra os advogados(as), nem ponho em causa, em geral, as suas competências e aptidões, no entanto, a representatividade que se deseja o mais plural e abrangente possível não o será plenamente quando apenas duas profissões representam a maioria dos portugueses. Haverá sempre quem possa pensar que o corporativismo possa influenciar na hora de tomar decisões, mas a chamada disciplina e voto certamente não deixa que isso aconteça. Poderá igualmente alguém dizer que alguma incapacidade nas suas profissões os(as) levem para a vida política.

A existência de pessoas com cursos superiores, doutoramentos e outros títulos académicos é certamente um facto positivo para a sociedade, mesmo que alguns desses títulos tenham sido conseguidos de formas menos claras e efectivas. No entanto, não me parece saudável ser dada preferência apenas pelo facto de uma pessoa usar um qualquer prefixo antes do nome, em detrimento de outra que eventualmente até terá maior capacidade e uma melhor visão, mas que não tem qualquer título académico.

Também neste aspecto a nossa jovem democracia tem muito para evoluir. Este facto contribui igualmente para a distância e o alheamento a que as populações se colocam em ralação à política. É urgente que se acabem com certos preconceitos provincianos e que os partidos entendam que não é apenas com doutores, engenheiros, arquitectos e afins que representarão efectivamente as populações e que merecerão o seu apoio, mas sim com uma efectiva participação de todos os estratos sociais.

Mais importante ainda é que todas as pessoas com capacidade e vontade de contribuir para melhorar a sociedade em que vivemos, não se afastem e mesmo dentro dos partidos não se deixem submeter por esses preconceitos mesquinhos e assumam sem medo novos e diferentes desafios que eventualmente lhes sejam colocados.

A ideia de que o desempenho de cargos públicos está reservado para uma certa elite onde apenas algumas e alguns poderão aceder, em virtude dos seus títulos, status social, poder económico ou capacidade de conseguir votos é um mal que só pode ser invertida com uma participação cívica efectiva, empenhada e construtiva de todos(as) quantos(as) desejam uma sociedade melhor e que estão dispostos a contribuir activamente para que isso aconteça.

Crónica publicada no Jornal Opinião Pública em 30/07/2008

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"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."