28 de maio de 2008

Maré Alta de 28/05/2008

Direitos Humanos


Foi tornado público na semana passada o registo da passagem de 56 aviões por Portugal, de e para Guantanamo. Mesmo depois de ter repetidamente dito que não havia qualquer registo, o Governo lá admitiu que Portugal foi utilizado pela CIA e pela Administração americana para escala ou usando o espaço aéreo.

É espantoso que depois de vários anos a serem relatadas torturas e vergonhosas violações dos mais básicos direitos humanos, o governo português não tenha tido sequer a curiosidade de querer saber que tipo de “carga” era transportada naqueles aviões. A argumentação é a de que há tratados e acordos militares que dispensam essa verificação. Mas havendo suficientes evidências de violação de Direitos Humanos, quanto mais não fosse o facto de haver prisioneiros em Guantanamo há vários anos sem qualquer acusação formada e sem direito sequer a um advogado, não seria recomendável que fosse averiguado aquilo que estava a ser transportado?

Pelos vistos, um acordo militar ou mesmo um qualquer tratado tem mais valor que os Direitos Humanos. Por outras palavras, quando se trata de um parceiro, fecha-se os olhos e assobia-se para o lado como se não fosse nada connosco. As responsabilidades de Portugal perante a comunidade internacional sobre Direitos Humanos, justiça e liberdades, foram simplesmente subjugadas pela subserviência a um imperialismo que dita as suas próprias regras, ao arrepio dos direitos internacionalmente assumidos. Juntando a isto o facto de o nosso paíster sido um dos patrocinadores da invasão do Iraque baseada em mentiras e provas forjadas, só nos podemos envergonhar dos governantes que temos tido desde essa altura e que não tiveram a coragem de se libertar das garras do imperialismo americano. Embarcamos numa guerra com o argumento de que os Direitos Humanos estavam e poderiam vir a ser violados e depois enterramos a cabeça na areia para não ver que os mesmos Direitos Humanos continuam a ser violados. A única diferença é que antes era um inimigo o violador desses direitos e agora é um aliado militar.

É esta mesma hipocrisia que acontece também em relação à China, à Birmânia ou a alguns países de África com quem os países ocidentais têm interesses económicos e que assim deixam cair no esquecimento as atrocidades que diariamente são cometidas sobre populações inocentes e indefesas.

Torna-se evidente que a soberania de um país como Portugal é sempre considerada em função dos interesses económicos ou mesmo militares que obrigam a deixar de lado os princípios pelos quais se deveriam orientar as sociedades modernas.

Em 2009, na hora de votar vamos lembrar-nos de quem tornou os portugueses cúmplices de uma invasão vergonhosa e de torturas barbaras a cidadãos a quem foi retirada qualquer possibilidade de se defenderem. Lembrar-nos-emos de quem foi um governante que impôs uma lei restritiva para muitos portugueses e que acabou por a violar e passar impune prometendo apenas não voltar a “pecar”.

Crónica publicada no jornal Opinião Pública em 28/05/2008

Sem comentários:

"O mal dos seres humanos, é que preferem ser arruinados pelos elogios, a ser salvo pelas críticas."